Cyntia Lima

Teoria do apego

Você já ouviu falar em teoria do apego? Sabe do que se trata?

Vou começar falando sobre a diferença entre a teoria do apego e a criação com apego, o que gerelmente causa confusão nas mães.

A teoria do apego é um estudo científico, realizado pelo psiquiatra e psicólogo infantil Jonh Bowlby que, após a segunda guerra mundial, decidiu pesquisar sobre os efeitos da privação materna nos bebês.  Como resultado, ele chegou a uma teoria que mostra os efeitos que um bom vínculo causam no bebê e posteriormente em sua vida adulta, e também, sobre a importância do amor e do  pertencimento.

A criação ou educação com apego é um tipo de filosofia de criação, idealizada pelo pediatra William Sears e sua esposa Martha Sears que se baseia na teoria do apego, levando em consideração a importância do vínculo entre pais e bebê principalmente em seus primeiros anos de vida.

O que é importante de se pensar em relação a diferenciação entre elas é que a criação com apego é uma forma de educar que oferece recursos que podem auxiliar na formação de um bom vínculo entre pais e bebê. Porém, isso não quer dizer que não seguindo essa filosofia não haverá a formação de um bom vínculo. A forma de educar um filho é algo pessoal, baseada nos valores, crenças e história de vida dos pais e cada um usará aquela que faz mais sentido para a família.

O que vamos falar aqui, portanto,  é de um estudo científico, que comprova e nos ensina que um bebê que possui uma figura de apego positiva, ou seja, uma pessoa responsiva que lhe dê segurança e que atenda suas necessidades com afeto desde o nascimento, irá contribuir para o seu desenvolvimento emocional.

O que é a teoria do apego?

O bebê está quentinho, aconchegado, tranquilo e sendo alimentado sempre que necessário dentro da barriga da mãe. De repente, ele sai para um mundo novo e assustador onde sente fome, frio e  uma quantidade enorme de estímulos visuais e auditívos, ele está totalmente vulnerável, o que lhe causa angústia. O que ele faz? Chora para tentar buscar algo que o conforte, que o ajude, que o faça se sentir melhor. Então, surge a figura de apego (normalmente a mãe), que irá responder ao seu choro, entendendo suas necessidades e tentado resolver o seu problema. Com isso ele irá se tornando cada vez mais seguro pois percebe que há sempre uma pessoa ali para ajudá-lo.

A teroria do apego, então, nada mais é do que burcarmos e termos alguém que nos traga segurança emocional em momentos de crise.

Por que o tipo de apego que é construído quando somos bebês reflete em nossa vida adulta?

Sabe a história que contei acima sobre os bebês quando saem da barriga da mãe? Então, nós vamos repetindo esse padrão durante toda nossa vida: temos uma angústia ou dificuldade e procuramos figuras de apego (pessoas que nos passem segurança emocional) para estarem ao nosso lado e nos ajudar a resolver nossos problemas.

Bowlby dizia que é impossivel imaginar que somos seres independentes um dos outros, que nós precisamos dos vínculos para sobreviver, que já nascemos com uma prontidão para o afeto.

Quando temos em nossas vidas pessoas que nos fazem confiar nelas, que nos dão espaço para sermos como somos e que nos apoie nos momentos de crise, temos o que Bolwby chama de um círculo de dependência efiacaz.

Na vida adulta aqueles que vivenciaram vínculos positivos na infância se tornam pessoas mais seguras, enquanto aqueles que não os vivenciaram podem tornar-se adultos inseguros e pessimistas.

Como sabemos se a criação do vínculo está satisfatória?

Os bebês e as crianças nos mostram com suas atitudes como está a qualidade do apego. Aqueles que exploram menos, que não se acalmam facilmente na presença da mãe, que a rejeitam ou não sorriem quando ela volta após um afastamento, que são mais irritados e tem problemas de comportamento podem indicar um apego inseguro. Enquanto aquelas que são facilmente consoladas, exploram mais na presença da mãe, param de chorar com facilidade e mostram-se felizes no reencontro com a mãe,  demonstram satisfação e segurança, são colaborativas e sensiveis indicam a construção de um apego seguro.

Mary Ainsworth, baseando -se na teoria do apego John Bowbly, criou três tipos de apego:

Apego seguro –  Onde há uma relação de  segurança emocional no vínculo mãe- bebê.

São mães responsivas  que tem a capacidade de se disponibilizar em quantidade e qualidade para o bebê.

São crianças seguras em dizer o que querem e o que gostam e sentem-se validadas. Tem segurança de que é escutada e de que terá ajuda para resolver suas angústias. São crianças que no futuro conseguirão confiar nos outros e criar bons vínculos.

Apego inseguro ambivalente – Onde há uma relação que hora a criança sente que a mãe está alí para ela  e hora não está.

São mães que, por exemplo, na tentativa de acalmar a criança dizem “eu volto logo” mas demoram a voltar ou saem de mansinho. Com isso,  a criança se frustra e passa a não confiar na mãe.

São crianças que no futuro podem se tornar inseguras e que terão dificuldade de confiar no outro.

Isso não quer dizer que a mãe tenha que ficar 24hs por dia com a criança para ser considerada uma boa figura de apego, mas o importante é como ela conduz esse afastamento. Se conversa com a criança (mesmo ainda bebê), se fala a verdade, se deixa o bebê com pessoas que façam também um bom papel de figura de apego e se está presente sempre que for possível e da melhor forma possível. Quanto menor a criança mais presença materna ela precisa.

Apego inseguro esquivo – São relações onde não há demonstração de afeto e calor materno.

São mães que na maior parte do tempo mostram-se indisponíveis e pouco apoiadoras.

São crianças que não confiam nos outros e nem si mesma e, no futuro, podem desenvolver um sentimento de autosuficiência.

Para finalizar, quero citar uma frase de Freud que diz “a mãe para maternar precisa ser maternada”, ou seja, uma mãe precisa ter uma boa rede de apoio que  permita que ela se vincule ao seu bebê, que ela tenha tempo e condições emocionais para se dedicar a ele.

Além disso, é sempre bom lembrar que não existe mãe perfeita. Mães erram, sentem raiva,  sentem cançasso e não conseguem/ não querem estar presentes o tempo todo. Cada mãe faz o seu possível com o objetivo de fazer o seu melhor. E como diz Winnicott “as mães não precisam ser perfeitas apenas suficientemente boas”.

Paula Morano – Psicóloga Perinatal

Refrências:

BOWLBY, J. Apego e perda: Apego – A natureza do vínculo. São Paulo: Martins Fontes, vol. 1.

BOWLBY, J. Apego e perda: Tristeza e depressão. São Paulo: Martins Fontes, vol. 3.

BOWLBY, J. Apego e perda: Separação. São Paulo: Martins Fontes, vol. 2.

Boyd, D; Bee, H. A Criança em Crescimento. Porto Alegre: Artmed.

GOLSE, B. O desenvolvimento afetivo e intelectual da criança. Porto Alegre: Artes Médicas.

WINNICOTT, D, W. O bebê e Suas Mães. São Paulo: Martins Fontes.